terça-feira, 11 de agosto de 2020

A Propaganda Humanista de Fachada

OBS: Texto original do final de 2019

Essa semana o comercial de um banco, desses bem grandes mesmo, coloca o ser humano num patamar de admiração por sua capacidade de criar, amar e fazer outras coisas boas que só seres humanos podem fazer num mundo tão dominado por inteligência artificial. A propaganda é bonitinha, tocante e muito bem feita. Mas ela também é vazia e ilusória.

Uma das coisas boas de 2019 (e essas são bem poucas mesmo) é o movimento crescente de inclusão e diversidade em peças publicitárias. Vemos mais pessoas negras, LGBTs, PCDs e de outras minorias ganhando espaço e até mesmo posição de protagonista nesse mercado de divulgar seu produto ou sua marca. Esse movimento é resultado de vários fatores, principalmente da luta desses grupos e do posicionamento de parte da sociedade em criticar e cobrar mudanças numa estrutura infiltrada de preconceitos. Mas o que isso tem a ver com o comercial do banco? Já chego lá.

O que está sendo notado com esse movimento, é que abrir o leque de inclusão tem um retorno positivo para imagem da empresa e consecutivamente para seus lucros. Não há nada de errado nisso, mas o problema é que a questão de inclusão, e de uma forma geral olhar para as pessoas com mais cuidado e atenção, fica muitas vezes apenas na teoria, na imagem pública que a empresa espera projetar sobre o mercado, mostrando uma vitrine linda e comovente diante da máquina que só se importa com números, estatísticas e lucro.

O objetivo não é em de fato ser essa empresa inclusiva e preocupada com a individualidade da pessoa, mas em se esforçar o máximo possível para que assim ela pareça ser.

A realidade do que essas empresas oferecem está nos minutos (ou mesmo horas) intermináveis que passamos esperando em filas reais e virtuais, no atendimento de funcionários pressionados para bater metas a qualquer custo, ou naqueles que passaram por um treinamento raso ou que simplesmente tem salários e benefícios tão ruins, que não compensam todo o esforço exigido.

É muito tocante ver as coisas bacanas e bonitinhas nas peças publicitárias, mas essa sensação positiva só dura até o momento que realidade daquela marca esbarra na gente rachando aquela vidro frágil.

O meu lado otimista acredita que essa preocupação, mesmo de fachada, possa ser um primeiro passo para uma preocupação real que se espalhe pelas entranhas do corporativismo de forma cada vez mais progressista. O meu lado pessimista acha que empresas ainda vão levar muito tempo para descobrirem que fazer um trabalho competente e ainda ter preocupação social, seria um bom negócio para todo mundo.


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