terça-feira, 14 de abril de 2015

Impressões de 'Songs Of Innocence' do U2


Com tudo o que está acontecendo em nosso país agora, resolvi deixar as ponderações políticas de lado e mergulhar um pouco nas vertentes musicais da banda que mais admiro, o U2. É meio irônico tentar "esquecer" da política pensando sobre uma das bandas mais engajadas no assunto, mas essa é minha forma de abstrair um pouco. Até porque já se vão 7 meses do polêmico lançamento do álbum e acho que agora é um bom momento para se tirar conclusões mais precisas sobre as músicas, esquecendo as reclamações de quem achou um abuso receber as músicas gratuitamente (isso já renderia outro texto extenso).

Começo avisando que li poucas críticas acerca do disco na época do lançamento. A grande maioria da chamada "crítica especializada" costuma ter um olhar mais genérico e superficial sobre o conteúdo analisado. O fato de eu ser fã da banda pode me tornar mais suscetível a gostar das músicas, mas não me torna cega em relação a sua qualidade. Eu não gosto de tudo o que U2 lançou, principalmente na última década (e isso também renderia outros tantos textos gigantescos e que não vem ao caso), mas sendo uma fã, consigo entender temas e intenções mais profundas que passariam batidas para os críticos. Cada um de nós - críticos e fãs - terá sua própria visão desse trabalho e nenhuma delas é melhor ou mais certa do que a outra. São pontos de vistas diferentes, pura e simplesmente.

Passadas as considerações iniciais, vamos ao álbum em si.


U2
son gs of innocence

No dia 9 de setembro de 2014, assim como a grande maioria dos fãs, eu ouvi a versão gratuita do álbum via iTunes. Na primeira ouvida o que se destacou foram: Volcano, Raised By Wolves, This is Where You Can Reach Me Now e The Troubles. Todas as anteriores me lembraram de músicas dos três últimos álbuns e acabaram passando batidas. Pode se dizer que minha empolgação com Songs veio a partir de sua segunda metade. Eu ouvi essas musicas a exaustão. E era isso o que eu precisava naquele momento, absorver essas músicas que eu gostei quase instantaneamente. Mas eu sabia que era apenas uma fase. Fãs do U2 podem ter os gostos mais variados e discordar em muita coisa, mas uma que é comum para todos é que a nossa relações com as músicas vão mudando com o tempo. Você precisa de tempo para aprecia-las. E de mais tempo ainda para entender o conceito do álbum. Falando nele, apenas na última semana é que peguei minha versão física, em vinil. Eu comprei pela Amazon dos EUA, e ele ficou esse tempo todo na casa de minha irmã que mora por lá. Aproveitei a visita para trazer meu disco. E faz toda a diferença ver a capa de um vinil em comparação ao do CD.
E a capa é apenas a foto em preto e branco de Larry e seu filho Aaron. O nome do álbum vem impresso na lombada da lateral e em adesivo colado sobre o plástico que protege o disco.



Algo parecido com o layout do disco anterior, No Line On The Horizon. Foto em preto e branco, sem título na capa. E as letras do título separas de maneira a formar outros significados.

U2
son gs of innocence

Nome da banda com letra maiúscula, título em letras minúsculas, com a palavra "songs" (canções) formando "son" (filho). O que me leva a crer que essas músicas são também os filhos dessa era de inocência. A foto de Larry com um abraço protetor sobre seu filho ilustra o sentimento da banda em relação a sua época da inocência, sobre suas músicas. O filho de pé, o pai em posição inferior, possivelmente ajoelhado. Amor incondicional. A contra capa também é simples, seguindo com as fontes em courier e com uma pequena reprodução da tatuagem do ombro do Larry. A mesma imagem se encontra em um dos lados dos selos do vinil.


Dentro, dois discos em vinil branco, alocados em uma luva de papel branco. Um deles tem as letras da músicas, o outro agradecimentos e tudo o que você encontra em um tradicional encarte. Não há de fato um encarte. Mas há uma foto da banda no meio da dobra entre as duas capas do disco. É um formato de capa que você encontra em outros discos como o Rattle and Hum.




Se você está familiarizado com as fases do U2, sabe que a banda passou por uma chamada época da inocência, para algo mais maduro e irônico ao mesmo tempo. Essa "quebra" aconteceu ao final dos anos 80, quando o sucesso mundial afetou a banda de forma tão profunda, que eles precisaram repensar toda sua existência. Mas dentro dos anos 80, existe uma segundo divisão. A era anterior ao "The Joshua Tree", pouco antes do Live Aid. É exatamente sobre essa época que a maior parte de "Songs Of Innocence" remete.

Quanto as músicas, não vou falar profundamente de nenhuma delas, pois seria necessário uma análise mais detalhada para entender cada uma delas, mas no geral estão bastante conectadas com o início da banda. Tentando seguir por uma ordem cronológica dos fatos, começo por Iris (Hold Me Close).

A mãe do Bono é presença recorrente em alguns álbuns. Ela foi mencionada em "Boy", "October", "Pop", e talvez mais discretamente nos outros (não consigo me lembrar agora de outras menções), mas essa é a primeira canção dedicada especialmente para ela. Bono a perdeu aos 15 anos e teve sua vida mudada completamente. É uma letra que vale a pena uma análise mais profunda, mas o ponto recorrente é o mesmo: o quanto ele sente a falta dela.

The Miracle (Of Joey Ramone), Volcano e Cedarwood Road, rementem a era Boy. Em Miracle Bono relembra de um show dos Ramones que assistiu e que o ajudou a recuperar a voz e o entusiasmo pela música (Everything I ever lost now has been returned/In the most beautiful sound I'd ever heard.).

Volcano (You don't wanna, you don't wanna know/You're on a piece of ground above a volcano) fala da transformação do simples garoto num membro de uma banda de rock. A letra pode remeter aos 4, já que a mudança foi grande para todos.Cedarwood Road é o nome da rua onde fica a casa em que o Bono cresceu. A letra fala dos lugares, das amizades e das mudanças trazidas pela música e o novo estilo de vida dos garotos. Ela começa bem pop e tranquila e vai se tornando mais densa, finalizando com (A heart that is broken/Is a heart that is open).

O próximo bloco de músicas que coloco juntas é de Raised by Wolves, This Is Where You Can Reach Me NowThe Troubles. Em comum todas remetem ao álbum "War", talvez mais especificamente para Sunday Blood Sunday, que considero ser a música mais forte e simbólica da banda.

Raised by Wolves, fala diretamente de um ataque terrorista (Metal crash/I can't tell what it is/But I take a look/And now I'm sorry I did) a descrição é crua e o ritmo da música pesado. This Is Where You Can Reach Me Now faz uma comparação entre a chamada "rebeldia adolescente" e a guerra (Old men says that we never listen/We shout about what we don't know/We're taking the path of most resistance/The only way for us to go).

The Troubles fecha o álbum de forma tradicional, letra melancólica, música lenta e profunda. "The Troubles" é o nome dos conflitos de etnias que acontece na Irlanda no Norte. Assim como Wolves, está ligada diretamente à Sunday Blood Sunday. Enquanto Wolves é mais explícita na descrição gráfica do horror dos ataques, Troubles tem uma abordagem mais espiritual e intima, (Somebody stepped inside your soul/Little by little they robbed and stole/Till someone else was in control).

No bloco mais light, Every Breaking Wave, California (There Is No End to Love) e Song for Someone. Todas as 3 vem em sequência no álbum e tem em comum o tema do amor. California é animada e leve, me lembra das músicas pops da Katy Perry. Mas a letra vai além de exaltar a terra ensolarada americana. Merece uma análise mais profunda também. Every Breaking Wave fala de um amor que teima em não acontecer (Baby every dog on the street/Knows that we're in love with defeat/Are we ready to be swept off our feet/And stop chasing/Every breaking wave). É a música do álbum que mais estou ouvindo no momento, sua letra ainda tem uma profundidade admirável, com certeza farei uma análise em breve. Song For Someone é uma canção de amor (You're not afraid of anything you've seen/I was told that I would feel nothing the first time/I don't know how these cuts heal/But in you I found a rhyme) simples e delicada. Tudo indica que será o próximo single do álbum. Pessoalmente não seria minha escolha, mas...

E pra finalizar, Sleep Like a Baby Tonight. SLABT é uma das músicas mais interessantes do disco na minha opinião. É sombria, tanto na letra quanto na sonoridade. E fala exatamente do fim da época da inocência (You're gonna sleep like a baby tonight/In your dreams, everything is alright/Tomorrow dawns like someone else's suicide). Algo como "aproveite sua inocência enquanto você ainda a tem, pois ela vai acabar".

Sobre as faixas bônus (no vinil veio apenas The Crystal Ballroom), mais uma vez, tem música que poderia estar no álbum principal. A própria The Crystal Ballroom, com uma levada de Discotheque (e letra que remete também a ela - Our first chance, is their last dance/Our life is shaped by another's hands/Buttoning unbuttoning her Coco dress) e Lucifer's Hands, que dialoga com um trecho de Rejoice, música do quase sempre esquecido "October" (Yes I can change the world/The fool breaking bread is made out of stone/The rich man won't eat he is eating alone/That's easy/I can't change the world in me). E a versão alternativa de The Troubles só me faz imaginar o que mais de legal pode existir nos arquivos de estúdios que nunca chegarão aos nossos ouvidos.

Depois de 7 meses, essas são minhas impressões sobre "Songs Of Innocence". Pra mim, que não sou muito fã da primeira década de 2000 (ATYCLB e HTDAAB principalmente), esse álbum soa fresco e empolgante. Fico curiosa em saber como as músicas ficarão nos shows, tenho a impressão que foram feitas para os estádios e que ganharão mais vida ao vivo. As versões acústicas já mostraram um pouco disso. Por enquanto eu vou me satisfazer apenas com alguma gravação dos shows de 2015, pois provavelmente não poderei ir a nenhum deles.

2 comentários:

  1. Boa noite,


    Essa é disparada a melhor banda de todos os tempos....belo post....bjs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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  2. Boa postagem. Li muitas críticas e é impressionante como o ativismo do Bono incomoda os críticos musicais. A ponto de criticarem o trabalho da banda por não gostarem desse papel que o Bono desempenha. Os caras são muito malas.

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